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Como o real digital pode impactar a economia e os brasileiros?

Em 2021, muito se falou sobre o bitcoin e todo o universo que envolve as criptomoedas. Além da especulação dos preços, o ambiente dispõe de uma grande fertilidade para novos recursos e funcionalidades aplicáveis no cotidiano, que acabaram se popularizando em formatos como token não fungível (NFT), DeFis, contratos inteligentes e muitos outros nomes pouco familiares para o grande público. Neste contexto, ainda em expansão, que surge a proposta do real digital.

Ainda em desenvolvimento, o projeto de moeda digital pode ganhar vida em 2022. Enquanto a novidade não acontece, vale a pena saber mais sobre o assunto: qual o propósito da tecnologia e como sua implementação mudaria a vida dos brasileiros?

Antes de responder a essas perguntas, porém, é necessário contextualizar o panorama que engloba as criptomoedas e o crescente interesse dos governos no tema.

De onde veio a ideia?

Em suma, essa categoria de ativos digitais teve o infame bitcoin como precursor ainda em 2009, sendo desenvolvido como uma resposta direta à crise financeira de 2008 — provocada pelo colapso do mercado imobiliário norte-americano e pela falta de regulamentação na indústria financeira. O evento afetou severamente potências econômicas em todo o mundo, que ainda lutam contra os efeitos provocados mesmo mais de uma década após seu fim.

O bitcoin, no que lhe concerne, foi criado como uma alternativa eficiente e segura aos bancos, permitindo que os usuários realizassem transferências entre si, sem a necessidade de um intermediário ou autoridade — nesse caso, um país. A garantia de confiança nesse sistema é baseada na rede que abriga as operações, inteiramente criptografada, conhecida como blockchain.

Em 2009, a ideia foi tida como ilusória e infrutífera. Em 2021, Hillary Clinton, ex-candidata à presidência dos Estados Unidos e secretária do governo norte-americano, pontuou que as criptomoedas oferecem “o potencial de minar as moedas, de minar o papel do dólar como moeda de reserva [e] de desestabilizar as nações”. Esse pensamento resume o atual cenário econômico internacional, em que diversos países tentam combater a “ameaça” de independência do bitcoin com alternativas próprias — como o Brasil e seu real digital.

O real digital e a corrida pelo “novo ouro”

Como sugerido pelo Coordenador do Projeto do Real Digital do Banco Central, Fábio Araújo, o desenvolvimento da alternativa brasileira “demorou um pouco mais do que o previsto”, mas está finalmente saindo do papel. A empreitada, apesar de não ser exatamente inovadora, se junta à vanguarda em ascensão composta de diversos outros países — incluindo os Estados Unidos, China e Rússia.

Mais especificamente, dados do site Atlantic Council apontam que pelo menos 90 países flertaram com a ideia de desenvolver uma “Moeda Digital Emitida por Banco Central”, ou CBDC, como é conhecida na sigla em inglês. Entre eles, há pelo menos sete projetos lançados, enquanto 15 já estão em desenvolvimento e outros 39 ainda estão em fase de pesquisas.

Veja o gráfico:

Mapa com o andamento de projetos de CBDC; alternativa brasileira já está em desenvolvimento. (Fonte: Atlantic Council/Reprodução)
Fonte:  Atlantic Council 

Para os governos, as CBDCs podem cumprir diversos objetivos e oferecer benefícios conforme seu projeto, como melhor custo-benefício na emissão, maior inclusão financeira e menor custo de transações. No caso do Brasil, a importância da implementação do real digital foi reforçada pelo lançamento do Pix, um sucesso imediato entre os brasileiros, que ajudou a facilitar transferências de valores em diferentes esferas da economia nacional.

Embora os reais propósitos da CBDC brasileira ainda não tenham sido propriamente estabelecidos, o Banco Central já afirmou seu interesse em projetos que incorporem características como: o suporte às Finanças Decentralizadas (DeFi), o apoio de mecanismos de proteção e supervisão de autoridades competentes, e a capacidade de resolução inteligente de transações monetárias — ou seja, um sistema com operações eficientes, que dispensem um intermediário, mas que possam ser regulamentadas por um.

Na prática, finalmente, como isso poderia melhorar a vida do brasileiro comum?

As (possíveis) vantagens do real digital

Além de acompanhar as tendências do mercado, quais seriam as vantagens de usar uma versão digital do real? Em entrevista ao TecMundo, Rudá Pellini, cofundador da Wise&Trust e autor do livro O Futuro do Dinheiro, explicou qual deve ser o impacto da criptomoeda do Banco Central. Segundo o especialista, as vantagens da tecnologia vão muito além do que temos com o Pix, que já permite realizar transações financeiras em um “ambiente digital” com agilidade.

O especialista explica que o Pix, apesar de facilitador, ainda é apenas um meio alternativo de pagamentos, enquanto a CBDC oferece novas possibilidades: “Com o Real Digital, poderemos ter integrações com protocolos de Finanças Descentralizadas e uma série de outras inovações no próprio protocolo da moeda”, ele comenta.

Segundo Pellini, a principal vantagem do real digital estaria na independência: assim como outras criptomoedas, seria possível lidar com o ativo sem a necessidade de um banco ou instituição financeira. O usuário só precisaria de um aplicativo de carteira no celular para realizar as operações, com tudo sendo validado no blockchain.

Bitcoin, altcoins ou real digital?

Enquanto a proposta de uma economia nacional mais independente dos bancos parece distante, isso não é impossível. O objetivo é compartilhado não apenas pelo próprio bitcoin, mas por diversas outras altcoins com propostas diferentes de atuação. Mesmo que compartilhem similaridades, Pellini afirma que as CBDCs não são comparáveis e tampouco oferecem concorrência às criptomoedas no curto prazo.

“Nesse momento, acredito que as iniciativas dos Bancos Centrais inclusive impulsionam a adoção de criptomoedas globalmente”, ele pondera, “visto que ajudam a difundir o conhecimento e a usabilidade dessas tecnologias, além de permitir a integração entre diferentes projetos.”

Contudo, o especialista entende que o futuro pode convergir para um rumo diferente: “Como teorizou Hayek em 1976 na obra A Desestatização do Dinheiro, acredito que veremos uma competição natural entre os diferentes tipos de moeda e seus emissores”, ele explica.

Ainda conforme o especialista, possivelmente teremos, em breve, criptomoedas vindas de diferentes fontes. Além de soluções descentralizadas como o bitcoin e as iniciativas oficiais de países como o Brasil, empresas também estão de olho nesse mercado e podem realizar emissões privadas — o Facebook, por exemplo, já tentou lançar sua própria criptomoeda.

Um passo adiante na evolução

Mesmo que sua implementação não seja adequada e perfeita, conforme os ideais dos entusiastas mais ávidos do nicho das criptomoedas, o real digital pode significar um avanço sem precedentes para a economia brasileira. Nesse contexto, Pellini afirma que qualquer projeto capaz de promover integração, segurança e redução de custos é “mais um passo no caminho da liberdade financeira do brasileiro”. Sucinto, ele conclui: “No final, todas as iniciativas que entreguem qualquer um dos itens acima deve ser celebrada e incentivada.”

Fonte: Tecmundo

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