Bruno Serra Fernandes reconheceu que o desafio do Banco Central será conseguir entregar a inflação dentro da meta e saber calibrar a alta dos juros
Diante do aumento das pressões inflacionárias em todo o mundo, que ganharam força com a guerra da Ucrânia, a tendência é de alta de juros no mercado global. E a sinalização do Banco Central do Brasil é de que é bem provável que a taxa básica de juros (Selic) pode subir “até quanto for necessário”, porque “todos estão dispostos a pagar um preço maior para ter uma inflação menor”.
“Estamos sendo cobrados para fazer o nosso trabalho, cumprir o nosso mandato. E não temos receio de persegui-lo. Vemos esse movimento de inflação implícita bem acima do padrão histórico também nos Estados Unidos e na Europa. Todos estão dispostos a pagar um preço maior para ter uma inflação menor”, disse o diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra Fernandes, ontem, em evento organizado pelo Goldman Sachs.
Fernandes reconheceu que o desafio do Banco Central será conseguir entregar a inflação dentro da meta e saber calibrar a alta dos juros. “O cenário piorou e foi necessário estender o ciclo. E o tempo dirá se saberemos alongar o período de manutenção do juro alto a fim de entregar a inflação na meta. Mas ela (a decisão) precisa ser razoável, porque o risco de desaceleração é crescente. E esse é o desafio pela frente”, afirmou.
Fernandes reconheceu que os dados de curto prazo mostram que a economia brasileira está surpreendendo as projeções pessimistas do mercado, mas, no segundo semestre de 2022, a tendência é de desaceleração, porque será o período em que os impactos do ciclo de alta da taxa Selic serão mais efetivos. “O lag da política monetária vai começar a atuar no segundo semestre. A taxa Selic passou para o nível contracionista em novembro de 2021”, destacou Fernandes. “A partir do segundo semestre, a história é outra. Vamos ver a Selic impactando a atividade”, frisou.
O diretor do BC reforçou que o horizonte relevante com o qual trabalha o Comitê de Política Monetária (Copom) é o de inflação na meta em 2023. O centro da meta atual, de 3,5%, já foi superado pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em abril, quando o indicador acumulou alta de 4,29% no primeiro quadrimestre. As estimativas do mercado mostram rompimento do teto da meta, de 5%, e indicam que, em 2023, quando ele passará para 4,75%, também será ultrapassado.
De acordo com Fernandes, o Copom sinaliza que avalia duas alternativas para chegar à meta de inflação: subir os juros a um pico maior ou adiar o ciclo de baixa. “O ambiente é bastante incerto e a palavra cautela aparecem com muita frequência nos comunicados do Banco Central. A minha preferência é sempre a mesma flutuação da taxa básica, porque uma taxa mais estável por mais tempo é melhor. Mas nem sempre isso é possível”, disse.
Fonte: Correio Braziliense
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