Neste artigo, o especialista discute sobre a produtividade no Brasil e o que acaba atingindo o seu crescimento.
Se o Brasil quer prosperar com qualidade, num movimento sustentável e consistente, não há outra variável mais importante para se preocupar do que a produtividade.
Para entender tudo isso, na economia, consideramos que o produto total de uma empresa ou de uma nação depende dos seus estoques de capital e de mão de obra. Quanto mais trabalhadores e mais capital a empresa (ou o país) empregar, maiores serão o produto, a renda e o bem-estar da população.
Acontece que, no limite, em algum momento, não será mais possível incorporar todas as pessoas à força de trabalho – ou até mesmo o capital físico (plantas, máquinas etc.). Então, só há uma maneira de desenvolvimento consistente: fazer mais produtos com o mesmo número de trabalhadores ou nível de capital, ou seja, aumentar a produtividade dos fatores.
Contudo, este tem sido o principal problema do País nos últimos 40 anos. Desde a década de 1980, a produtividade nacional vem definhando, fenômeno cujo resultado tem sido ratificado pela baixa taxa de crescimento.
Segundo o economista José Alexandre Scheinkman, nessa mesma época, a eficiência do trabalhador brasileiro era 30% a de um norte-americano.
Em 2015, o valor caiu para menos de 25%, ou seja, uma pessoa dos Estados Unidos produz, em média, quatro vezes mais que uma daqui.
O número é ainda mais assustador se compararmos com outros países: Taiwan, por exemplo, registrava 40% da produtividade estadunidense em 1980; agora, aponta quase 90%; enquanto a Coreia do Sul passou de 30% para 60%; e o Chile, de 37% para 45%. Sim, estamos perdendo não só para países ricos, mas também para os nossos pares.
A Produtividade Total dos Fatores (PTF) é uma medida relevante que avalia a eficiência com que a economia combina todos os insumos para gerar produtos. Neste caso, o Brasil, neste mesmo período, apontou queda de quase 20% em relação à PTF norte-americana, ao passo que a China assinalou aumento relativo de 60%; a Coreia do Sul, de 80%; e a Índia, de 40%. Detalhe importante: são todos nossos concorrentes diretos por investimentos.
E por que estamos perdendo terreno nesta seara?
O economista Marcos Lisboa ressalta que menos da metade da diferença de renda entre os países decorre dos fatores de produção, capital e educação.
Óbvio que a proporção dessa diferença é grande principalmente por contarmos com mão de obra menos qualificada ou máquinas menos eficientes, mas parte relevante deste atraso existe também porque há proteção de empresas e setores arcaicos.
Os maiores ganhos de rendimento decorrem do processo de entrada de novos negócios e do fechamento de outros mais obsoletos e inoperantes. Sem abertura comercial, as empresas nacionais não são obrigadas a competir com as estrangeiras, emperrando o investimento.
Além disso, uma boa parcela da perda de produtividade é oriunda da qualidade das instituições. Economistas dizem brincando que se Bill Gates fosse brasileiro, seria funcionário público, dados os incentivos que as instituições proporcionam.
Não há, aqui, nenhuma intenção de menosprezar os funcionários proficientes e diligentes. O problema é que Bill Gates é muito mais produtivo empreendendo, então, haveria um sério erro de alocação caso a anedota fosse real.
Ainda segundo Lisboa, “eficiência do Judiciário, instrumentos de crédito e capital, pouca complexidade no mercado de trabalho e acesso a informações, por exemplo, estão associados ao maior crescimento dos países desenvolvidos nas últimas décadas. Além disso, as regras do ambiente de negócio, permitindo mais empreendedorismo e abertura e fechamento de empresas, contribui para o aumento da produtividade e o crescimento econômico”.
Sendo assim, sabemos que dois destes pontos, que citaremos a seguir, “estrangulam” a produtividade e, portanto, o progresso do Brasil: ambiente de negócios ruim e excesso de proteção da indústria nacional.
As reformas Administrativa e Tributária – e o aprofundamento da Trabalhista –, ações no mercado, fortalecimento de agências reguladoras como garantia de investimentos em infraestrutura, diminuição do custo de produção e ampla e gradual abertura comercial são medidas urgentes. Sem estes passos, não sairemos do lugar.
Nos últimos dez anos, crescemos, em média, apenas 0,6%, metade do número que registramos na década que chamávamos de “perdida” (1980). Nunca nos livraremos desta armadilha se não priorizarmos a produtividade. E isso significa ter coragem de romper esta nossa zona de conforto de produzir sem competir.
Fonte: Contábeis
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