Liderança feminina: especialista explica como alcançar o cargo

atitudes de um líder

A liderança feminina ainda é um tema que precisa se desenvolver amplamente na sociedade.  Afinal, elas ainda são minorias no cargo de chefia. Mas como mudar o cenário?

Você, mulher, sonha em ocupar um cargo estratégico e de liderança? Caso sim, você sente que tem todas as características necessárias? A ambição de atingir estes cargos pode até existir, certo? Contudo, muitas mulheres acabam se sabotando por não sentirem que são realmente boas.

Além disso, as dificuldades, impostos por uma estrutura social machista, pode desanimar.  Outra questão é que a falta de representatividade, ou seja, figuras para se inspirar, acaba complicando a situação. Afinal, o número de mulheres nos cargos gerenciais caiu de quase 40% para 38%, em quatro anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Contudo, mesmo diante de todas as dificuldades, é muito importante que mulheres também ocupem cargos de liderança. Pensando em ajudar nossas leitoras, conversamos com  Amanda Gomes, cofundadora da ELAS, primeira escola de liderança feminina do Brasil. Confira!

Amanda Gomes, cofundadora da ELAS, primeira escola de liderança feminina do Brasil

Abertura Simples – Vivemos um momento muito importante no qual diversos temas sobre igualdade de gênero são discutidos amplamente na sociedade, por conta do avanço tecnológico e a democratização da informação.

Contudo, os dados, divulgados pelo IBGE destacam que o número de mulheres nos cargos gerenciais caiu de quase 40% para 38%, em quatro anos. Ou seja, ainda encontramos muitas barreiras para chegar em cargos de lideranças. Como lidar com estas barreiras estruturais para conquistar estas posições?

Amanda Gomes: Um dos aspectos para lidar com estas barreiras é a mulher buscar clareza do que realmente ela quer para ela, e se a carreira é algo que a faria se sentir reconhecida ela deve insistir e buscar conhecimento para agir de maneira mais estratégica e menos operacional, aprender a ser uma pessoa mais assertiva e exercer sua influência de forma diferenciada, parar de buscar a perfeição e acreditar que o sucesso pode ser aliado sim de uma compensação entre vida pessoal e profissional.

Nós sempre vimos muitas iniciativas de apoio, mas poucas ações práticas capazes de transformar esse cenário. Por isso, eu e a Carine Roos criamos a ELAS, primeira escola brasileira voltada para a liderança feminina. Oferecemos mentorias, workshops, palestras e cursos, como o Programa ELAS (nosso carro chefe). O objetivo das iniciativas é tornar as participantes mais seguras, confiantes, autossuficientes e empoderadas.

Identificamos que nossas alunas, quando finalizam o curso, estão mais ambiciosas para conquistar espaços no mercado de trabalho e cientes de seus valores como pessoa e mulher.

Em uma turma de cem mulheres certificadas pelo Programa ELAS, constatamos que 30% delas receberam aumento salarial ou foram promovidas após participarem do curso. Entre outras conquistas e avanços, as alunas destacam melhora na produtividade, no foco, na comunicação e no desenvolvimento pessoal, fatores imprescindíveis em ambientes profissionais cada vez mais competitivos.

A.S.: As mulheres encontram dificuldades em conquistar o cargo de liderança e também para mantê-lo. Quais são as principais dificuldades das mulheres que já estão em uma posição de liderança?

A.G.: As principais dificuldades são: autocobrança, busca pela perfeição e o sentimento que não darão conta de tudo. É como se a passagem para essa função fosse alta e coloca a vida e a capacidade da mulher em xeque mate e dependendo da fase da vida da mulher, pode haver o questionamento dela sobre a maternidade, logo, vem o sentimento de culpa e muitas mulheres desistem de avançar quando estão na melhor.

Fase e anos mais tarde se arrependem. Ou seja, sempre é uma cobrança sem fim. Por isso, trabalhamos a liderança centrada das mulheres que vista promover a clareza do que é mais importante, a avaliação do ser humano e a priorização de todas as áreas e libertação da busca em ser perfeita. A partir do poder pessoal as mulheres conseguem se sentir realizadas em todos os seus papeis com muito mais leveza. Isso exige autoconhecimento e ferramentas práticas que ensinamos na escola.   

A.S.: – Uma pesquisa, realizada pela Universidade Dominicana da Califórnia, contatou que cerca de 70% da população norte-americana, especialmente mulheres, acreditam que suas conquistas são fraudes, ou seja, a famosa Síndrome da Impostora. Quando pensamos em mulheres no cargo de liderança, isso pode ser algo comum. Quais são as dicas para lidar com esta questão?

A.G.: Sim é mais comum do que se imagina, principalmente em mulheres já considerada bem-sucedida, 70% delas alegam se sentir muitas vezes uma fraude ou duvidar de sua capacidade.

Para superar a Síndrome do Impostor, é preciso parar de estabelecer padrões inatingíveis, pois todas as pessoas, invariavelmente, cometem erros. O sucesso é resultado de diversos fatores e não exclusivamente do seu trabalho árduo, como também por outros fatores como eventuais ajudas que você recebe de parceiros, um pouco de sorte, entre outros.

Uma dica principal é que essa mulher deve se lembrar do que levou ela até onde ela está. E ter certeza qual é a história que representa essa mulher, se lembrar das conquistas e barreiras vencidas, dos desafios superados e se lembrar de todas as conquistas até aquele momento presente.

Quando nos conectamos com a nossa própria história temos a certeza, por meio das evidências, que o nosso sucesso não é sorte e sim fruto de uma dedicação. Estas, muitas vezes maior do que a média das pessoas que convivemos e, por vivemos no piloto automático e na cobrança de sermos perfeitas, nos esquecemos de lembrar daquilo que realmente nos representa.  É a parte da nossa própria história que temos a certeza que podemos mais e temos todos os recursos necessários para superar novos desafios.

Entender que somos perfeitamente imperfeitas.

Outra dica importante: na prática não existem erros, mas sim resultados. Está tudo bem em não ser a mãe perfeita, a executiva perfeita, a colega perfeita, a amiga perfeita.

Buscar autoconhecimento e investir no seu desenvolvimento pessoal é a dica mais valiosa para poder minimizar os efeitos da síndrome da impostora bem como eliminar essa síndrome. 

O tratamento também pode ser feito com psicólogos e por meio de atividades capazes de aliviar o estresse e a ansiedade, que melhorem a autoestima e o autoconhecimento, como yoga, meditação e exercícios físicos.

 A.S.: Ser uma mulher em cargo de liderança é uma grande responsabilidade. Contudo, muitas podem observar isso somente com uma questão de representatividade feminina.

No entanto, pode ser muito mais. Afinal, o cargo não é só sobre representatividade, mas sobre qual o posicionamento é assumido para realmente gerar mudanças concretas para as mulheres de forma geral. Diante disso, quais posturas as mulheres líderes podem adotar para realmente gerar transformações para outras?

A.G.: O primeiro passo é que as mulheres possam ser exemplos para outras mulheres. A mulher que está numa condição de comando, se perceba, por meio do seu próprio exemplo, como uma inspiração para outras.

Outro aspecto importante que as mulheres precisam aprender nessas condições é assumir uma postura mais estratégica e um discurso mais ampliado sobre resultados de negócio e carreira.  Mulheres têm uma tendência a ser grandes executoras, mãos na massa e buscarem alta performance.

Entretanto, existe um desafio para exercer maior influência e habilidade para se falar de resultados, números concretos e evidências que ampliam a visão. Enxergar o negócio à frente de forma mais estratégica, é mostrar, por meio de um discurso mais pragmático, o grande valor do seu trabalho, dos resultados da sua liderança para a equipe e para a empresa.

Ser uma boa líder não é algo inerente à personalidade, mas uma competência que pode ser desenvolvida. Uma comunicação assertiva com seu time é a chave para o bom relacionamento e para a boa liderança e para isso existem seis fatores extremamente importantes, além da fala, que vão te ajudar muito. São eles:

·                 Estar verdadeiramente disposta a ouvir

·                 Entender que a interpretação do outro pode ser muito diferente da sua

·                 A comunicação é o efeito do que você obtém

·                 Todo comportamento tem uma intenção positiva

·                 Ter clareza do que se espera com a comunicação

·                 Saber fazer perguntas certas 

A.S.: Quais são as principais características das líderes de sucesso?

A.G.: Primeiro de todos é a capacidade de se conhecer. Entender suas potencialidades e seus pontos de melhoria. A partir do autoconhecimento são capazes de encontrar os profissionais corretos para complementar aquilo que não é um talento natural construindo times diversos e de grande capacidade produtiva e de resultados.

Segundo ponto é a clareza e o sentimento genuíno do seu papel enquanto alguém que tem a missão de contribuir com desenvolvimento do outro, alguém capaz de transmitir paixão naquilo que faz e convicção da direção do resultado.

Ser genuína com a sua essência na forma de liderar, assumindo sua vulnerabilidade e a partir dela se conectar com as pessoas pelo seu próprio exemplo. 

Ter um mindset estratégico, ou seja, ter clareza do resultado que você precisa entregar para passar de fase. Isso significa alinhar as expectativas de entrega e de resultados. Entender na visão do outro e aquilo que é prioridade.

A.S.: Você poderia recomendar, ao menos, cinco livros que são essenciais para mulheres em cargo de liderança?

A.G.:

  • A coragem de ser imperfeita
  • Conversas decisivas
  • O poder da presença
  • Produtividade para quem quer tempo
  • O essencialíssimo 

Curtiu saber mais sobre liderança feminina? Nossa recomendação é que você continue se aprofundando no assunto. Leia nosso artigo “Mulheres empreendedoras: entenda quais são os desafios