Uma pesquisa constatou que 74% startups fecham após cinco anos. Afinal, como evitar que isso aconteça? Veja como ter uma startup de sucesso!
“Uma startup é uma bactéria que vive e prolifera no problema”. A frase de Cezar Taurion, Partner Kick Ventures, presidente do i2a2 (Instituto de Inteligência Artificial Aplicada) e investidor/mentor de startups, apresenta um questionamento importante: seria o Brasil, então, um país perfeito para a criação de uma startup de sucesso?
Afinal, por aqui o que não faltam são problemas que precisam de soluções e que grandes empresas ainda não conseguiram, efetivamente, resolver. “Para dar certo, uma startup tem que oferecer um produto ou serviço que resolva um problema. Sem um problema real para resolver, não existe a razão de ser da startup”, explica Taurion em entrevista ao site da Laba Brasil.
O Brasil está entre países líderes no cenário de startups. Contudo, além de resolver os problemas que impulsionaram o nascimento dos empreendimentos, os fundadores também precisam resolver seus próprios problemas internos para vingar no mercado e, de fato, conquistar o sucesso. É aí que mora o problema, ou problemas, pois o Brasil conta com muitas burocracias, sistema tributário complexo e investidores conservadores.
“Embora lidere o cenário de startups na América Latina, estamos muito aquém de onde poderíamos estar se tivéssemos mais inovação, menos burocracia, investidores mais ousados e melhores talentos. Infelizmente, a nossa formação acadêmica deixa muito a desejar”, comenta o mentor de startups.
Diante disso, como, de fato, uma startup pode conquistar sucesso e ganhar notoriedade no mercado? As respostas não são simples, mas o especialista Cezar Taurion apresentou informações valiosas para quem quer abrir, ou já abriu, uma startup.
Criar uma startup, no Brasil, não é uma tarefa simples diante da burocracia, riscos e falta de investimento. Contudo, certa vez, o senhor disse “uma startup é uma bactéria que vive e prolifera no problema”. Diante desta constatação, podemos concluir que nosso país pode ser um mercado ideal desde que seus fundadores saibam atuar de forma inovadora e estratégica?
Cezar Taurion: Para dar certo, uma startup tem que oferecer um produto ou serviço que resolva um problema. Sem um problema real para resolver, não existe a razão de ser da startup. E como achar um problema real? Observe o dia a dia. Se encontrar algo que parece inconveniente ou caro, com percepção de valor desbalanceada, é um problema em potencial em busca de uma solução.
Mas, importante, resolva problemas realmente brasileiros, em vez de apenas replicar modelos vencedores em outros países. O Brasil tem uma série de entraves e barreiras, como excesso de burocracia e investidores muito conservadores. Mas tem um grande mercado, recursos naturais como petróleo, boa localização geográfica, um setor agro pujante.
Embora lidere o cenário de startups na América Latina, estamos muito aquém de onde poderíamos estar se tivéssemos mais inovação, menos burocracia, investidores mais ousados e melhores talentos. Infelizmente, a nossa formação acadêmica deixa muito a desejar.
Empreendedorismo ainda passa distante de muitos cursos universitários. Aliás, a vocação empreendedora, não por necessidade, mas por opção, deve ser incentivada desde o início dos estudos.
Precisamos sair de um contexto onde o futuro profissional seja restrito a um emprego público, para um onde empreender seja altamente valorizado. De concurseiro a empreendedor. Mas vejo que a mentalidade empreendedora está florescendo no país e é altamente benéfica. Temos o maior ecossistema de startups da América Latina e precisamos nos esforçar para ampliar esse ecossistema, pois ele tem potencial de ajudar o país a crescer em termos econômicos. Uma forte cultura de empreendedorismo é essencial ao crescimento de um país.
A Startup Farm realizou uma pesquisa e constatou que 74% startups fecham após cinco anos. O motivo não é exatamente a falta de investimento, mas encontrar uma solução que realmente seja aceita e vingue no mercado. Podemos dizer que este fato pode indicar que muitos empreendedores acabam “no mundo das ideias” e não conseguem, de fato, apresentar soluções efetivas e práticas para os problemas? Como superar esta limitação?
C.T.: Muitas vezes observo fundadores de startups apaixonados pela sua solução, e não pelo problema. Vejo muita gente perdendo tempo bem no início da startup mergulhando fundo na criação de um business plano muito detalhado. Um plano de negócios exaustivo. Detalhado não é legal, pois acaba engessando a solução, torna sua startup inflexível. E, muito provavelmente, a ideia inicial não vai ser a que vai ser implementada.
Como disse o marechal de campo prussiano von Moltke, “nenhum plano de batalha sobrevive ao contato com o inimigo”. Startup é uma empresa e, como tal, precisa de gestão, controle de gastos e fluxo de caixa, assuntos que muitos fundadores não conhecem ou subestimam.
Apaixone-se pelo problema. A solução vai variar ao longo do tempo. E uma lição básica: uma startup é muito trabalho. A realidade é muito dura e cruel. A sua ideia fantástica pode virar pó rapidamente. Mas se você tiver resiliência, confiança, eficiência (não gaste dinheiro onde não será absolutamente necessário) e velocidade para pivotar, suas chances de vencer aumentam exponencialmente.
Um estágio muito comum é a procura por investidores e programa de aceleração. Muitos acabam, exclusivamente, dependendo desse estágio para prosseguir com os negócios. O senhor acredita que depender apenas de investidores e programas de aceleração é um caminho correto?
C.T.: Você deve buscar investidores no momento certo. Se for cedo demais, além de perder o negócio (pela diluição de seu equity), muitas vezes você será obrigado a seguir as diretrizes do investidor, que não necessariamente serão as mesmas que as suas. Você deve buscar investidor quando ele for absolutamente necessário para dar um salto na empresa.
Quanto a aceleradoras, não se entusiasme demais. O que você pretende? Ser acelerado via conexões com o mercado (capital relacional)? Acesso à investidores (capital financeiro)? Mentoria em negócios e tecnologias (capital intelectual)? Fortalecer seu networking com outras startups, profissionais e empresas?
Bem, pelo menos grande parte disso é que você quer encontrar em uma aceleradora. Mas será que todas conseguem entregar isso? Como escolher uma? Pelo número de startups aceleradas, pela localização ou pela fama? A ideia básica de uma aceleradora é muito boa, mas existem aceleradoras e “aceleradoras”. Muitas aceleradoras podem realmente ajudá-lo a acelerar seu crescimento (daí o nome). Mas só se você encontrar a aceleradora certa para sua startup. E se você está pronto para entrar em uma. A fase de aceleração demanda engajamento total da startup.
Pense cuidadosamente em quais são suas necessidades e aplique-se às aceleradoras que melhor atendem a elas. E lembre-se: não há nenhuma “melhor aceleradora do mundo”. Cada uma tem seu valor. Além disso, as aceleradoras são também startups e como toda startup, sua taxa de sobrevivência não é alta.
Na prática, são startups de aceleração de startups. O resultado financeiro delas é a valorização das startups aceleradas, pelas quais ela tem participação e essa realização se dá no longo prazo, de 4 a 7 anos.
Assim, muitas aceleradoras ainda não mostraram o valor do investimento e, portanto, ainda não são negócios consolidados. Escolher uma que seja adequada ao que você deseja é fundamental.
Uma escolha errada pode fazer com que sua startup tropece e saia do mercado. Esta é uma das primeiras e decisivas decisões que fundadores de startups se defrontam. E, lembre-se que não é essencial entrar em uma aceleradora. Você pode viver e crescer sem uma.
Empreender é um caminho que exige sair da zona de conforto e procurar por novos conhecimentos. Diante disso, qual livro sobre startups o senhor indicaria para quem está começando neste mundo ou que já está desenvolvendo seu negócio?
C.T.: Existem muitos livros sobre o tema. Uma excelente leitura é o livro “The Start-Up J Curve: The Six Steps to Entrepreneurial Success”, de Howard Love. Ele faz uma série de recomendações práticas, como lembrar que sair da fase de inovação, para a sistematização e crescimento, demanda desafios bem diferentes. Muitas startups não conseguem decolar, mesmo tendo conseguido sucesso inicial na fase de inovação, por razões diversas:
1) Não conseguiram montar uma equipe coesa e capaz de gerenciar o crescimento. Sair da fase da empolgação, onde tudo é “cool”, para entrar no mundo do CNPJ e suas Idiossincrasias demanda gestão profissional que nem todos fundadores possuem.
2) Não conseguiram montar uma estrutura organizacional que permita evoluir com consistência, de meia dúzia de devotados colaboradores para dezenas de funcionários, mantendo o mesmo espírito de inovação e comprometimento.
3) Não conseguiram criar uma cultura que mantenha perene a filosofia inicial dos fundadores. A cultura deve permear a empresa desde o início e não ser deixada em segundo plano, para ser escrita e divulgada somente depois que a startup se consolidou.
4) Não conseguiram criar processos que permitam aos gestores a tomar decisões sem depender dos fundadores.
Claro, existem muitos outros livros que devem ser lidos, mas o importante é lembrar sempre que a vida de uma startup não é uma reta apontada para cima. Tem altos e baixos. Tem momentos em que tudo dá certo e outros em que parece que as coisas não funcionam. Regulações inesperadas surgem, uma ação da concorrência que afeta o negócio diretamente, e reclamações dos clientes, que antes adoravam o produto começam a aparecer. Mas esse é o mundo dos negócios.
Para finalizar, o senhor poderia deixar uma mensagem para os nossos leitores que querem embarcar no mundo das startups?
C.T.: Existe uma crença que a startup tem a obrigação de vir com uma ideia disruptiva, criar um negócio novo, que vai eliminar algumas empresas estabelecidas e se tornar um unicórnio em pouco anos. Claro, ser o próximo Google ou Amazon é um sonho de qualquer empreendedor. Mas esquecendo a literatura sobre as startups do Vale do Silício, vamos ver a realidade brasileira.
Em vez de buscar algo disruptivo, um modelo de negócios revolucionário, busque encontrar soluções práticas que resolvam os grandes problemas de ineficiências estruturais que existem no país. As diferenças entre o Vale e o Brasil são gigantescas. No Vale o custo de capital é muito menor, tem muito mais dinheiro circulando e existe muito mais disposição a correr riscos por parte de investidores do que aqui.
Além disso, o mercado americano é extremante competitivo, o que praticamente força os investidores a procurarem modelos de negócios disruptivos. No Brasil, as ineficiências estruturais que encontramos em todos os setores da economia permitem a criação de startups que solucionem estes problemas, de maneira simples, mas causando grande impacto, sem necessidade de aplicação de tecnologias sofisticadas.
Não entre no jogo com o sonho de ser unicórnio. Concentre-se em resolver problemas reais. O Brasil, com suas imensas ineficiências estruturais, está cheio deles, todos em busca de soluções. As grandes empresas não estão conseguindo resolvê-los. Por que não ser a vez das startups?, finaliza o especialista.
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